MEMÓRIA AFETIVA

Salve Pards!

Este é o artigo referente ao vídeo do canal COLECIONISMO TEX intitulado “Memória Afetiva”.

Se perguntarmos para qualquer leitor, colecionador e fã de Tex sobre qual gibi do ranger mais o agrada, muito possivelmente será lembrado um número especial de determinada coleção.

O que vai determinar essa preferência são as lembranças em torno daquela edição ímpar. Pode ser o fato da edição em questão ter sido a primeira lida, ou lembrar-lhe alguém querido, ou então lembrar-lhe de uma fase importante da infância ou da vida, ou ainda por estar vinculada a momentos significativos da sua história pessoal.

Esse conjunto de lembranças boas são chamados de “memórias afetivas”.

No caso específico do colecionismo Tex a memória afetiva é a responsável por preservar uma fatia significativa de colecionadores.

O gatilho emocional funciona assim: “Tex me lembra um momento bom de minha vida”, “eu quero preservar esse momento bom”, “Tex significa esse momento bom” em consequência “se eu manter Tex próximo a mim então eu torno esse momento bom constantemente preservado comigo”.

E assim a mágica se dá! E aquele(a) adulto(a) estará fazendo coleções, lendo seu gibizinho e até fazendo projeções emotivas para filmes de faroeste, cosplay de personagens e participando em encontros de aficionados.

Alguém pode dizer: “não concordo! eu apenas gosto de Tex porque as aventuras são ótimas”.

Sim, possivelmente não estará errado em se tratando de você, isso porque, Tex não possui para você uma memória afetiva. Em outras palavras, sua mente não criou uma associação entre uma lembrança boa do passado e o personagem da Bonelli.

Aliás, pode ser até que sua memória afetiva esteja vinculada ao Batman, ao Homem-Aranha ou ao Conam, e é por isso que você prefere esses ou outros heróis de quadrinhos antes de Tex.

Outra situação também possível é que você pode ter vinculado Tex a uma memória ruim, o oposto das memórias afetivas.

Se isso aconteceu você certamente odeia o ranger, não suporta vê-lo ou ouvir seu nome, e quando isso acontece trata logo de ridicularizá-lo.

No entanto para quem construiu as suas memórias afetivas vinculadas a Águia da Noite a simples lembrança pode leva-lo(a) à uma doce (ou difícil, mas ainda assim admirável) infância.

É possível até que você tenha um ganho em qualidade de vida ao ler e colecionar Tex. Isso porque seu cérebro libera uma resposta química “rejuvenescedora” toda vez que desperta do passado aquela criança ou jovem que se deleitava com as aventuras do personagem. Ou seja, ler e colecionar Tex “atualiza” a criança viva em suas memórias.

Assim, não se trata mais de um gibi, nem sequer de um personagem de histórias em quadrinhos, mas sim de uma felicidade única, fixada em um momento do passado e trazida a tona naquelas páginas, conduzindo consigo pessoas queridas que não esteja mais conosco, ambientes e paisagens urbanas alteradas pelo progresso ou a própria juventude e saúde modificada pela idade.

Pode se dizer que Tex é uma dose diária de juventude e reencontro com momentos perdidos no tempo.

Mas a memória afetiva pode ser de alguma forma prejudicial em se tratando de Tex?

Sim, pode, e é interessante avaliarmos alguns aspectos.

O negativo de uma memória afetiva é a incapacidade de algumas pessoas em flexibilizarem suas memórias à evolução dos tempos.

Em outras palavras é o fã fixado em um momento editorial do Tex, tornando-o radicalmente contrário às inevitáveis mudanças que o tempo trás.

Vamos imaginar um fã acima dos 60 anos de idade.

Na sua infância ele se apaixonou pelas aventuras do Tex da Vecchi. Então ele se habituou com os desenhos de Aurelio Gallepini, Giovanni Ticci, Guglielmo Lettèri, Erio Nicolò e Fernando Fusco. Ele também se habituou ao formatinho, ao papel jornal e ao preto e branco.

Em 1983 ele levou um susto e quase ficou sem seu personagem, mas o ranger voltou sob o selo RGE e tudo estava lá! Ele voltou a vislumbrar o formatinho em papel jornal e preto e branco, e Gallep, Ticci, Lettèri, Nicolò e Fusco também estavam lá. Tudo bem, de repente surgiu um Vincenzo Monti, um Jesus Blasco, um tal de Fabio Civitelli e Claudio Villa, mas eles eram “razoáveis” e era possível “aguentá-los”.

No entanto o tempo passou, a RGE deu lugar a Globo e ele viu histórias assinadas por um Claudio Nizzi e Tex sofreu uma transformação absurda na pena de um desconhecido Gilbert (pseudônimo de Alberto Giolitti).

Para piorar passaram a publicar histórias de Tex em cores!!! Que ultraje!

Neste ponto as memórias afetivas desse fã mandaram-no recuar: “Esse Tex não conversa mais comigo!” disse ele. Sentiu-se traído.

Esse hipotético (mas nem tanto) fã nem possuía até esse tempo internet. Não lhe disseram que Nicolò havia morrido. Também não lhe falaram que Nizzi estava para substituir Bonelli e Giolliti (Gilbert) foi o mestre de Ticci.

Tudo apareceu para ele nas páginas do “seu Tex” e ninguém lhe perguntou se ele aceitava aquilo tudo.

Hoje em dia existem muitos velhos fãs nessa situação.

Eles até aprenderam a usar a internet. Sim, como aprenderam! Mas, infelizmente, aprenderam a usar para reclamar! Reclamam de tudo! Não gostam dos novos desenhistas, muito menos das aventuras. Também não gostam dos novos formatos. Não gostam das capas de Villa, queriam que o mestre Gallep voltasse do além para continuar essas capas.

Justiça seja feita, para muitos fãs velhos a adaptação foi possível.

Mas, é lamentável que entre fãs atuais do ranger haja aqueles incapazes de se adaptarem.

Eles continuam ativos. Muitos divulgam o personagem, participam de eventos, mas estão “presos” ao Tex da fase Vecchi. Alguns até chegaram ao período RGE e Globo, mas muito poucos conseguiram adentrar os primeiros anos da Mythos.

Não parece, mas o pessimismo que os saudosistas sofrem repercute negativamente na própria vida editorial do Tex.

Eles, talvez involuntariamente, desincentivam novos leitores, atrapalham com suas críticas a já precária divulgação da Mythos Editora e sabotam novas iniciativas editoriais.

Vinculados ao passado procuram negar o presente. Para isso empregam a arma da crítica, do arrazoamento. Parece não se darem conta que com isso prejudicam o futuro do ranger, mesmo que eles gostem de alardear (com razão) os mais de 75 anos de vida editorial de Tex.

Memórias afetivas são coisas boas e devem ser preservadas.

Mas é necessário dar oportunidade para que novas memórias afetivas se construam em novos leitores.

Também é necessário entender que existem muitas outras memórias afetivas construídas no Tex da Mythos, afinal já se vão 25 anos de Tex com essa editora.

Jovens e velhos precisam respeitar isso.

Precisam respeitar o poder que Tex teve, tem e terá em criar muitas e muitas memórias afetivas.

Veja o vídeo do Canal Colecionismo Tex que originou esse artigo.

https://www.youtube.com/watch?v=Q4BJJN2L-e4