Este é o artigo referente ao vídeo do canal COLECIONISMO TEX intitulado “A Primeira Editora de Tex no Brasil”.

Começamos dizendo que não é bem assim como o título descreve, porque o Tex não começou a ser publicado no Brasil exatamente por uma editora, mas vamos aos fatos.

O ano era 1951 e o Brasil chegava perto aos 52 milhões de habitantes – bem distante dos 200 milhões de hoje – governados pelo Presidente Getúlio Vargas, eleito democraticamente em dezembro de 1950, para o que seria seu segundo mandato.

Naquela época as histórias em quadrinhos eram alvo de uma perseguição implacável iniciada na Europa, pelo nacionalismo do governo autocrata italiano, e que provocou disseminação importante no Brasil.

Por aqui, junto a questões do nacionalismo, outros elementos provocaram discussão, redundando em um estudo feito no ano de 1944 pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), um órgão do Ministério de Educação e Saúde, que atribuiu aos quadrinhos influência nefasta sobre o desempenho escolar das crianças.

A questão foi provocando tanta comoção na sociedade brasileira que em 1948 chegou-se mesmo a formar uma Comissão de Educação e Cultura da Câmara de Deputados para investigar as denúncias do INEP.

Naquele momento, para sorte das revistinhas em quadrinhos, o relator era o deputado Gilberto Freyre, autor da clássica obra “Casa-Grande e Senzala” (1933) e entusiástico defensor das revistinhas. Freyre, em seu parecer final de 1949, foi contrário a censura dos quadrinhos.

No entanto, naquele mesmo ano foi aprovada na França uma lei que censurava as revistas em quadrinhos no país.

A década de 50 se iniciava com psiquiatras americanos, capitaneados por Frederic Wertham, depondo que as revistinhas eram as responsáveis pelo aumento da violência entre crianças e adolescentes.

Isso tudo chegou ao Brasil, movimentando a discussão entre políticos, clérigos, educadores e, claro, os próprios editores das histórias em quadrinhos.

Os dois maiores editores de revistas em quadrinhos na década de 50 eram os empresários Roberto Marinho, do Jornal O Globo, fundado no Rio de Janeiro em 1925, e Adolfo Aizen da Editora Brasil América Limitada (EBAL) também fundada no Rio de Janeiro, em 1945.

Aproveitando-se daquele momento conturbado, Orlando Dantas, diretor do Diário de Notícias (Rio de Janeiro, 1930), promoveu uma briga pessoal contra Marinho, atacando os gibis em seu jornal com os incendiários argumentos da época, na tentativa de quebrar-lhe a liderança no mercado.

Esse foi o palco que receberia o personagem Tex Willer.

Como sabemos, Tex foi criado na Itália em 1948 pela Edicioni Audace (1940) de Tea Bertasi, ex-esposa de Giovanni Luigi Bonelli que, como colaborador da Audace criou o personagem junto com Aurelio Gallepini.

Em agosto de 1950 Roberto Marinho trouxe para o Brasil os quadrinhos italianos da coleção Albo Salgari, do escritor Emilio Salgari, publicando-os em uma revistinha chamada Júnior. A Júnior era publicado no formato de tiras (striscias, 8X17cm), criado pelo editor italiano Tristano Torreli.

A partir do nº 28 (fevereiro de 1951) a Revista Júnior deu início a publicação de Tex, chamado de Texas Kid nas capas. Naquele período as publicações de Marinho eram todas produzidas nas oficinas gráficas de O Globo, pois ainda não havia fundado sua editora.

No ano anterior (1950), a Editora Vecchi (Rio de Janeiro, 1913), de Arthuro Vecchi, também havia trazido para o Brasil duas séries de sucesso na Itália: em janeiro “O Pequeno Xerife” (Kit Hodghins, Il Piccolo Sceriffo, 1948) e em setembro “Xuxá” (Sciuscá, 1949).

Roberto Marinho continuou publicando as Aventuras de Texas Kid. Em 1952 fundou no Rio de Janeiro a Rio Gráfica Editora (RGE) que passou a fazer parte das Organizações Globo (neste período ainda não havia a Rede Globo de Televisão que foi fundada somente em 1965) e deu continuidade às publicações de quadrinhos, inclusive Texas Kid. Texas Kid perdurou até a edição 263 (julho de 1957), tendo 236 números publicados de suas aventuras.

Curiosamente, quando fundou sua editora RGE, Marinho não podia ainda usar o nome “editora Globo” como era de sua vontade por já existir em Porto Alegre a Livraria do Globo, fundada em 1883.

Somente em 1986 a RGE comprou a Livraria do Globo assumindo seu nome (Editora Globo) e mudando sua sede para a cidade de São Paulo.

Curiosamente, nesse período Roberto Marinho estava novamente às voltas com Tex Willer, mas isso já é assunto para outro vídeo!

Veja o vídeo do Canal Colecionismo Tex que originou esse artigo.

https://www.youtube.com/watch?v=l6EjvTKPPo0&t=42s

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